
Washington D.C — Após o 27 de Maio de 1977, em Luanda, todos os dias úteis de semana, ou alternados, Carlos Jorge, acompanhado de dois guarda-costas (armados até aos dentes!), conduzia um Jeep UAZ – 469 de fabrico soviético.
Passava pela rua que ligava a Avenida dos Combatentes e a Avenida Brasil. Via-lhe nessa intersecção — a duas quadras do edifício José Pirão — quando eu ia com os meus colegas para a Escola 1º de Maio, de manhã cedo.
Antes do “fraccionismo”, cruzei-me com o agente dos serviços secretos de Agostinho Neto em várias circunstâncias, alguns convívios sociais, reuniões organizadas pela DISA ao pequeno almoço no Hotel Trópico, principalmente. Parecia ter um carácter afável,sociável, brincalhão…
Dias após a “intentona de golpe de Estado”, testemunhei a exibição do seu carácter cínico, desumano e selvático quando ordenou aos seus subordinados que repremissem as mães vestidas de luto… que o chamavam de assassino …enquanto entrava pela porta da Cadeia de São Paulo com vista ao Estádio da Cidadela… Foram agredidas com coronhadas,empurrões, pontapés, humilhadas…
De Maio em diante, vi-o algumas vezes…tinha o rosto pálido,como se a alma o tivesse abandonado…tornou-se casmurro, arrogante, rebelde e prepotente.
Aterrorizava todos e tudo que lhe contrariasse… Contudo,os seus métodos autoritários e repressões psicológicas assemelham-se muito aos utilizados atualmente pelos generais João Martins “Jú”, Francisco Pereira Furtado,José Tavares Ferreira,Fernando Garcia Miala, e o director da Gabinete de Estudos e Análises Estratégicas (GEAE) , Ernesto Manuel Norberto Garcia,etc.
Se permitimos ao Carlos Jorge causar tantos danos irreparáveis a nossa consciência moral e integridade cívica, quem nos garante que os seus homólogos actuais não façam o mesmo mais vezes?
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